Não devemos ficar tristes com Bolsonaro



Após escrever sobre o Niilismo nas eleições, quero mostrar que não devemos ficar tristes, já que o ditado mais velho que eu conheço, vale mais que toda filosofia que eu já estudei: "quem planta, colhe!"

Muitos, agora, depois da vitória do Bolsonaro, começam a ficar surpresos com algumas posturas do ainda-não-presidente. Interessante que esta situação me faz pensar que Heráclito realmente sempre teve certo: o que é, não é, está em devir. Ou seja, Bolsanaro não é, mas já é, por devir-de-ser....

Mas não é de meu amigo Heráclito que quero falar hoje. Quero manter as mesmas ideias de meus amigos Nietzsche e Heidegger quando eles olham para a história ocidental e vêem que tudo faliu e não haveria como não falir: Bolsonaro é prova disso. É o fruto disso. E nós nos espantamos atoa.

Qual é de fato o problema? O problema é que somos de uma sociedade que se construiu sobre uma única pergunta que faliu: o que é a verdade? Até Jesus (coitado!!!) não foi perdoado dessa fatídica pergunta - o que é a verdade?

Construímos a nossa grande e poderosa civilização sobre uma pergunta que não sabíamos se teria resposta. Quem sabe o que é a verdade? Quem sabe se perguntarmos pela verdade chegaríamos nela? Por mais que respondamos, nenhuma das respostas é a verdade que a pergunta pela verdade deseja. Perguntar pela verdade é perguntar pelos fundamentos, pelos fundos dos fundos.... E não essas respostinhas meia-tigelas que damos para nos consolar psicologicamente.

Há quem diga: - não existe "a verdade" e sim "as verdades". Ora... Isso para mim soa tão bizarro quanto levantar uma pergunta que não tem resposta. Experimente chegar no médico e este dizer:  - você não tem câncer, mas com "os cânceres" - querendo dizer que não sabe se tem ou não a doença. Ou você manda construir tua casa e o engenheiro fala:  - sua casa é segura, mas tem "certas seguranças" - querendo dizer que não sabe se ela está segura ou não....

A questão é que construímos um mundo a partir de uma pergunta que não sabemos e nunca saberemos a resposta. Como isso é bizarro... Como posso levantar uma questão se não tenho certeza nenhuma de saber se posso respondê-la? Esse é o mesmo paradoxo levantado pelos sofistas a Platão quando ele diz que é possível conhecer. Deixemos de lado Platão e os sofistas.

Parece que construímos uma sociedade a partir de uma pergunta errada: - o que é a verdade'? Esta é a sabedoria de Nietzsche. Kant, muito tempo antes de Nietzsche chegou a ventilar a mesma coisa quando disse que não temos acesso às coisas em si mesmas. Mas preferimos não dar muito ouvidos a ele, criamos um monstro pior: o absolutismo de Hegel.

E hoje essa pergunta nos levou a uma consequência drástica e cruel. Tentando responder pela verdade, acabamos criando uma "borra" que, ao ser jogada no lixo, fora achada e colocada como o fundamento da vida de hoje. Essa 'borra', chama-se: "ciência e tecnologia".

A tecnociência é tudo o que a filosofia não quis ser ao perguntar pela verdade: provisória, dogmática, pragmática, utilitarista, individualista e fundada na concretude. Tudo o que a filosofia desprezou na busca pela verdade, a sociedade contemporânea assumiu e vive muito vem obrigado. Nós - filósofos - somos culpados pela pós-verdade. Por uma sociedade que prefere as fake-news! Por uma sociedade que mostrou (e mostra todos os dias) para nós que a verdade é mais um atrapalho do que um ganho.

Somos uma sociedade da pós-verdade! E por nossa culpa. Somos porque insistimos em questões que nunca deveriam ter sido feitas (bem que os sofistas nos avisaram). Somos uma sociedade em que Bolsonaro é "bom", "belo" e "verdadeiro". É divino!!!! Inclusive até os eixus o profetizaram,,,,

Somos a sociedade Bolsonaro porque preferimos fazer perguntas que 'Bolsonaros' nenhum fariam. Somos culpados por deixar a borra da ciência (mediocridade) para que os mortais pudesse cultuar como deuses. Somos culpados por todas as vezes que as crianças nos perguntaram "porque", nós brigávamos, dávamos um doce, colocávamos na frente da TV para assistir os Bolsonaros falarem.

Bolsonaro não é um presidente, um indivíduo, é um resultado. É um fake-news. É a sobra do desgaste da sofia com especulações que não deram certo. Enquanto Pitágoras olhava para cima prevendo o eclipse, a sua empregada Bolsonaro já dava um jeito de ver o buraco que ele ia cair. 

Hoje temos que levantar nossos dedinhos para cima e metralhar sei-lá-o-que! Pois este resultado é nosso, é a nossa cara, é nossa civilização vivendo a crise da pergunta pela verdade. Pois, verdade? - pra que? Pra quem? "Tal Ok?"

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