DESABAFO DE UM PROFESSOR
Em algum momento de minha vida como professor, assisti a um comentário de um aluno: “nós gostamos de aprender, o que não gostamos é da escola”. Com esta frase – a princípio – paradoxal, refleti a respeito do que significa educação e como ela afeta a vida das pessoas e principalmente de nossos alunos e acadêmicos. Acredito que com isto, a relação educação e sentido de vida já se abre. Que sentido tem a educação para mim que sou professor? Que impactos na minha vida ela proporciona? Tenho pensado se, num país como o nosso, vale a pena ser educador. É muito triste quando vejo na TV um gurizinho dizer que quando crescer quer ser jogador de futebol, pagodeiro ou funkeiro. No fundo, ele está dizendo: “quero uma vida fácil, sem esforço e com muito dinheiro”. Ora, não é totalmente o contrário do que a educação prega? Que sentido tem exercer uma profissão que seu papel é ser a única pessoa que seus alunos não querem ver?
Acredito que a educação deve primeiro me levar a refletir o sentido de minha vida. E o pior de tudo é que leciono numa área do conhecimento que sempre buscou dar sentido à vida. Ironia do destino. Que impactos a educação deve ter na vida de um docente? Será que a pedagogia, seja ela qual for dará conta de acessar a dor de tantos professores que estão entrando em neuroses profundas ou abandonando suas salas de aula para vender cachorro quente na rua, pois vender cachorro quente na rua, em nosso país, é “empreendedorismo”, e ser professor é ser “vagabundo”. Que sentido tem ser professor? Que sentido tem ser uma pessoa que vive da ilusão de que está “transformando o mundo, mudando uma ou duas pessoas”? Que sentido tem estudar tanto, se o que vale a pena é pegar uma câmera e semianalfaticamente ter mil, um milhão de seguidores do youtube? Ou ainda que sentido tem quando o mundo está nas mãos das tecnologias que se aprende fazendo, com tutoriais que até uma criança iletrada é capaz de montar?
Estas são perguntas que abrem a pergunta entre a educacao e o sentido da vida, pois ao contrário de todas as pedagogias, inclusive a salesiana, tem como filosofia primeira o educando. Ora, mas quem faz a pedagogia não é o educando e sim o docente. Por que o núcleo da pedagogia é aquele que nem sabe que é o centro? Como exercer metodologias ativas sem ativar a parte interessada? Como reconduzir o processo de educação se o professor “pode estar sendo visto” como apenas uma engrenagem? E ele também não é um educando? Ele também não está crescendo ou amadurecendo? Por que a educação se volta sempre para uma parte que menos se preocupa com ela? Não são de alunos que os consultórios e as clinicas terápicas estão cheias. Por que a pedagogia, que diz que é para formar o professor, pensa em tudo, menos no professor? Minto, ela pensa no professor: como aquele que vai por a engrenagem para funcionar.
O que fazer para que a educação tenha sentido? A meu ver, só fará sentido a educação para os alunos, quando fizer sentido para o professor. É necessário fazer uma virada copernicana na pedagogia. As pedagogias formam o professor, pensando no aluno. Isso é um erro. O direito forma o advogado, e não está pensando no réu. A medicina forma o médico, e não o doente. A engenharia forma o engenheiro e não quem vai morar debaixo de suas construções. E todos cursos formam para o mercado. O perfil do egresso é sempre pensado desde o ponto de vista do mercado. A pedagogia faz o contrário. Ela forma o professor não pensando no professor, mas pensando no aluno. Todas as teorias pedagógicas não são para empoderar o professor, mas para facilitar o conhecimento para o aluno. Até o nome de professor está fora de moda. Hoje é o “facilitador”, o conteudista, o tutor, o auxiliar, etc..... Cada vez mais o sentido da educação se volta para o alunado e relega o professor. Não importa o que o professor produz, não importa sua aula, importa o que o aluno aprendeu. Reclama-se de aulas participativas, dinâmicas ou ativas, desde que sejam confortáveis para o aluno.
Pode até ser que estas análises sejam um tanto quanto exageradas.... Mas enquanto um desabafo deve servir de alerta à pedagogia. É necessário uma virada na pedagogia para o professor. Uma pedagogia que pense o humano professor. A evasão que outrora era só de alunos, hoje também é do professor. A diferença é que o aluno evade por dificuldades; o professor por doenças ou frustrações. Onde estão aos pais desses meninos – perguntamos; e onde estaria os pais do professores? – mortos ou doentes (desgosto? Talvez). Há psicopedagogos, para alunos. Mas não há psico-professores. Muito pouca gente tem pensado no professor. A técnica intensificou ainda mais esse problema. Pois além de o professor ser ineficiente, ele agora é obsoleto e caro. Uma máquina é mais barata. É necessário uma discussão do sentido de ser professor não só com o professor, mas também com os alunos. O aluno deve também ser pedagogizado, ou seja, ele deve entender como funciona e por que funciona a educação.
Termino esse ensaio afirmando que é necessário ser professor. É necessário ouvir o professor, entendê-lo também como um ser humano, como um aluno, como um aprendiz que precisa se perguntar pelo sentido da educação. Educar só tem sentido se fizer sentido para aquele que dinamiza a educação. O aluno é protagonista sim de seu conhecimento, porém o protagonismo não pode significar auto-suficiência ou “padroado”. Proponho uma “pedagogia de baixo”. Não uma pedagogia que parta dos pedagogos, mas uma pedagogia que parta da escuta dos professores, uma pedagogia que tem sentido por que ela não mata a vida de quem dá sua vida.
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